Sim, este post tem cara de repeteco, mas permita-me explicar. Em 1928, cinco anos antes de a Fiat, atual co-proprietária da Chrysler, inaugurar sua impressionate fábrica em Lingotto, os distribuídores da Chrysler da Argentina abriram uma magnífica construção para montar carros, vendê-los, testá-los… e colocá-los para correr em Buenos Aires. Fomos dar uma olhada no que sobrou do edifício.
O distrito de Palermo Chico, em Buenos Aires, é o tipo de lugar onde você esperaria encontrar de tudo, menos uma fábrica de automóveis. Imediatamente ao noroeste de Recoleta, é um lugar de avenidas de três faixas, condomínios fechados, homens em camisas polo e mocassins de camurça, mulheres comendo sobremesas propositadamente diminutas. Você até poderia, de fato, andar pela Avenida Figueroa Alcorta e passar pelo único prédio com uma pista de testes no topo e nem perceber.
O Palacio Chrysler foi construído pela companhia do empreendedor argentino Julio Fevre, que adquiriu os direitos exclusivos de representar a Chrysler na Argentina em 1927, após uma década e meia importando carros americanos para o país. O edifício foi projetado por Mario Palanti e ocupava um quarteirão inteiro onde era então uma área com poucas construções em Buenos Aires.
Fotos da época mostram a enorme estrutura entre casas esparsas e terrenos vagos. A fachada decorada com colunas abrigava uma área de exibição, enquanto nos fundos e no andar de cima ficavam os escritórios administrativos, oficinas e depósitos.
Mas foi mesmo a cobertura que roubou a cena. Equipada com uma pista de testes de pouco mais de uma milha (1,6 km) de extensão, era utilizada para testar carros e receber a alta sociedade argentina para apreciá-los: a parte interna da pista tinha capacidade para 3 mil pessoas.
O declínio do comércio durante e após a Segunda Guerra Mundial e a urbanização da região deram fim à montagem e venda de carros no prédio. Em 1990, o local foi comprado por uma companhia de desenvolvimento urbano, que o transformou em um edifício residencial e comercial. Foi nessa situação que encontrei o Palacio Chrysler, agora chamado Palacio Alcorta, em uma tarde de janeiro; um bloco baixo e cinzento rodeado por câmeras de segurança.
O porteiro tinha suas prioridades bastante claras. Mesmo após aprender sobre a história do prédio — com a ajuda de minha adorável co-exploradora Natalie Polgar, que traduziu meu inglês para o espanhol portenho do porteiro através de uma ponte italiana — ele não me deixaria passar pela porta da frente e definitivamente não me deixaria visitar o que restou da pista de testes no telhado, que o Google Maps revela ter sido demolida e convertida em uma piscina para os moradores ao lado de um telhado oval, abobadado.
O porteiro só não contava com uma coisa: a sacada do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, bem ao lado do Palacio Alcorta. Compre um bilhete e suba até o último andar, onde você poderá ver uma pequena parte da curvatura do circuito oval que ficava no telhado, uma obra secreta, de uma era em que o automóvel era o novo, a arte e a poesia, acenando para um mundo onde os prédios não eram apenas tijolos anônimos, mas templos magníficos dedicados aos deuses da velocidade. Se você se julga um verdadeiro amante dos carros, faça um favor a si mesmo e vá visitá-lo!
Fonte: Jalopnik
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